Polícia resgata chinesas mantidas em cárcere e obrigadas a se prostituir em São Paulo

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Por Ana Beatriz Rosa    
   
Um karaokê no Bom Retiro, no centro de São Paulo, onde funcionava uma casa de prostituição de jovens imigrantes chinesas, foi fechada pela Polícia Civil de São Paulo. No local, ao menos 13 mulheres de 18 a 21 anos eram mantidas em condições precárias. A operação batizada de “Freedom” (liberdade, em inglês) ocorreu nesta quarta-feira (3).

Os proprietários do estabelecimento, um casal de chineses, e uma terceira pessoa que trabalhava no local foram presos em flagrante. Os suspeitos vão prestar depoimento na Justiça de São Paulo nesta quinta-feira (4).

POLÍCIA CIVIL

O delegado da 2º DP responsável pelo caso, Antonio Sucupira, disse que as chinesas viviam em quartos insalubres, com potencial risco de incêndio e com acesso restrito à alimentação.

“O que vimos foram essas jovens mulheres em situação degradante. Os quartos em que elas estavam eram sujos, com restos de alimentos e a fiação elétrica insegura. Poderia ter ocorrido um incêndio ali”, explicou o delegado em entrevista ao HuffPost Brasil.
Nenhuma delas falava português, e todas estavam proibidas de sair de casa sozinhas. As vítimas não tinham celular e estavam sem contato com os seus familiares há pelo menos seis meses.
“Nós conseguimos estabelecer um canal de comunicação e confiança com as vítimas, que não falavam português, e a todo momento trabalhamos para proteger a identidade e o emocional dessas mulheres”, acrescentou Sucupira. Segundo ele, a operação foi eficiente principalmente por conta da atuação das policiais mulheres e de um policial que falava mandarim.

A denúncia anônima de exploração sexual

De acordo com o delegado, a Polícia Civil de São Paulo recebeu há 15 dias uma denúncia anônima de que mulheres estariam sendo vítimas de abusos na região do Bom Retiro.
A mensagem circulou por meio de uma carta escrita em português e sem assinatura. O texto dizia que as mulheres eram ameaçadas e forçadas a se prostituir.

POLÍCIA CIVIL

Após a denúncia circular, um homem que se apresentou como chinês e seria primo de uma das vítimas procurou a delegacia do Bom Retiro. Em seu depoimento, explicou que a prima havia sido enganada e precisava ser libertada. Ela havia deixado a sua cidade de origem na China em janeiro, com a promessa de que iria trabalhar na indústria têxtil de São Paulo.

No entanto, ao desembarcar no Brasil, a jovem não foi direcionada ao Consulado Chinês. Ao contrário, foi levada diretamente para a casa no Bom Retiro e, desde então, era obrigada a praticar sexo forçado e estava sendo mantida em cativeiro.
A testemunha explicou que a vítima conseguiu convencer um de seus clientes a deixá-la usar o celular. Imediatamente, a jovem ligou para o pai e descreveu as condições desumanas a que estava sendo submetida.
Foi então que a família se organizou para que o primo viesse até o Brasil com a missão de resgatá-la. De acordo com Sucupira, o chinês apresentou detalhes do interior da casa que foram confirmados após a operação realizada pela polícia.
No local funcionava um bar, um karaokê e nos fundos havia pelo menos oito quartos destinados à prostituição.
Já na delegacia, as chinesas afirmaram que eram obrigadas a praticar sexo com homens e que deviam pagar aos proprietários uma mensalidade pelo uso dos quartos.
De acordo com o delegado, as 13 jovens foram encaminhadas para um local seguro e o endereço permanece sob sigilo.
“Todas são maiores de idade e estão com o passaporte em dia. Elas vão ter que decidir se querem continuar no Brasil ou se preferem voltar para a China”, explicou.
O delegado também afirmou que representantes do Consulado da China estiveram no local e se colocaram à disposição das mulheres para auxiliá-las.
Questionado se a Polícia Civil teria recebido outras denúncias similares de mulheres em cativeiro, Sucupira foi categórico. “Se existir em São Paulo qualquer outro lugar como esse, a polícia vai agir de forma enérgica. Ontem, a maior preocupação era que essas mulheres fossem protegidas. A polícia está aberta para qualquer denúncia, e a população precisa se sentir segura para nos avisar de crimes como esse.”
O casal chinês e o “funcionário” do local foram autuados pelos crimes de cárcere privado, favorecimento à prostituição e tráfico de mulheres.
Matéria extraída do Site huffPostbrasil

Conteúdos do blog

As publicações deste blog trazem conteúdos institucionais do Projeto Antonia – Unidade da Rede Oblata Brasil, bem como reflexões autorais e também compartilhadas de terceiros sobre o tema prostituição, vulnerabilidade social, direitos humanos, saúde da mulher, gênero e raça, dentre outros assuntos relacionados. E, ainda que o Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil não se identifique necessariamente com as opiniões e posicionamentos dos conteúdos de terceiros, valorizamos uma reflexão abrangente a partir de diferentes pontos de vista. A Instituição busca compreender a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, trazendo à tona temas como o estigma e a violência contra as mulheres no âmbito prostitucional. Inspiradas pela Espiritualidade Cristã Libertadora, nos sentimos chamadas a habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico de pessoas com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença Oblata; e isso nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais.   

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