Há muitos meses, em todas as unidades da Rede Oblata, temos visto como a crise socioeconômica e política que o país (e o mundo) atravessa agravou as dificuldades financeiras que as mulheres enfrentam. Agora temos a pandemia do coronavírus que transformou as relações sociais, nos obrigando ao isolamento e restrição da convivência. E neste contexto, as mulheres que se prostituem recebem a notícia do fechamento dos locais onde fazem os programas, configurando-se um cenário de certo desespero, mas também de solidariedade.
Com o fechamento dos hotéis da zona Guaicurus de Belo Horizonte, as mulheres que exercem a prostituição naqueles locais questionam: para onde ir e como conseguir dinheiro para as necessidades mais elementares? Se os hotéis fecham, para onde as mulheres que não têm casa em BH iriam, ainda mais com pouco ou nenhum dinheiro?
O Coletivo Clã das Lobas, por meio da liderança de Jade e Priscila, conseguiu alguns acordos com donos de hotéis da região para diminuir o sofrimento das mulheres. Em parceria com elas, a Unidade Diálogos pela Liberdade – Rede Oblata BH – se mobilizou para auxiliar nas medidas de prevenção e encaminhamentos, em uma conexão solidária que visa minimizar o impacto sobre esta população vulnerável.
As articulações com diversos setores começaram no dia 18 de março e ainda estão em processo. A primeira ação foi cadastrar as mulheres, especialmente as que exercem a prostituição em hotéis mais precários, e verificar quais as demandas mais urgentes. Naquele momento, o levantamento resultou nas seguintes necessidades:
– Compra de passagens para as mulheres que desejavam voltar para casa;
– Abrigamento e alimentação para as que precisavam permanecer em BH;
– Divulgar via internet essas ações para outras mulheres na mesma condição.
Conjuntamente, realizamos contatos com parceiros de congregações religiosas e donos de hotéis. Ocorreu uma reunião presencial com representantes do Diálogos pela Liberdade – Rede Oblata BH, Clã das Lobas, Secretaria Municipal de Assistência Social e das subsecretarias de Assistência Social (Central do Migrante e Diretoria LGBT) e do Direito e Cidadania. Apesar da grande limitação do setor público (com acesso restrito e funcionamento em escala mínima), alguns encaminhamentos estão em andamento.
Devemos aprender a ler, escutar, compreender e questionar as realidades sociais, econômicas e culturais nas quais a nossa missão atua. Somos interpeladas a desafiar o comodismo das respostas prontas, os padrões hegemônicos, “a normalidade” e nos inserir nas periferias e nas fronteiras onde a exclusão e as injustiças se materializam. Somos impulsionadas a responder os desafios à luz do Evangelho. E quem nos aponta o caminho? Com quem queremos construir esse “novo horizonte”? Experimentamos nestes dias um pouco do Reino de Deus na força da #sororidade das mulheres. De fato, “a audácia do Espírito nos impulsiona” a continuar na luta por um mundo mais justo.
Relato de Isabel Cristina Brandão Furtado, psicóloga da Rede Oblata BH
Há muitos meses, em todas as unidades da Rede Oblata, temos visto como a crise socioeconômica e política que o país (e o…
Posted by Rede Oblata Brasil on Wednesday, March 25, 2020